sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Verdade ou Mentira?

Há uma larga (já portanto, inútil) discussão acerca da mentira e da verdade na comunidade de filosofia no orkut.

Vale mais pela discussão e reflexão, que induzem a leitura e ampliam o conhecimento trocado entre pessoas que tem afinidades com a filosofia.

A princípio, a discussão gera em torno de um assunto banal (homens mentem? mulheres acreditam? mulheres mentem? quem mente mais), mas ainda assim, é possível torcer tudo como se fosse um grande pano encharcado, e deixa-lo úmido, prendendo em si somente o restinho de água interessante para ser utilizada, e esse restinho é a filosofia.

Reflexão de Schopenhauer, "Aforismos para a Sabedoria de Vida" (citador.pt):
Mentira e Verdade Desmascaradas
"Se desconfiarmos que alguém mente, finjamos crença: ele há-de tornar-se ousado, mentirá com mais vigor, sendo desmascarado. Por outro lado, ao notarmos a revelação parcial de uma verdade que queria ocultar, finjamos não acreditar, pois assim, provocado pela contradição, fará avançar toda a rectaguarda da verdade."

Mentiras são necessárias para a própria sobrevivencia do ser humano enquanto vive em sociedade. Ainda assim, isolar-se do mundo, sem contato com outras pessoas, é necessário a mentira, para sua própria ilusão...mentir para si mesmo.
Compreendo a mentira como a revelação da própria covardia combinada com o prazer do domínio.
Pois sim, ao mentir, não percebe-se muitas vezes que tal mentira revela-se como verdade.
Quantas vezes já ouvimos e também já dissemos: "estou sem tempo, por isso não te procurei" ?
A vontade enquanto suprema, não é dominada por qualquer barreira que seja.
Esta mentira exemplificada, intrinsicamente, é a verdade de quem diz: "neste momento, não tenho vontade ou disposição de falar com você".
Geralmente, por conveniencia, fingimos acreditar, até porque é irrelevante discutir acerca da vontade do outro. Mas também fingimos acreditar, em muitas ocasiões, para ficarmos na plateia, apenas a observar.
Ter a verdade só para si gera um certo prazer inconsciente (mas consciente quando a mentira é premeditada e com a finalidade de prejudicar, mas aí entraríamos no campo da psicanálise, o qual não é o meu propósito aqui.), pois há o domínio em detrimento do outro.
Dizer uma mentira também pode-se compreender como covardia em não conseguir encarar o outro, ou a situação conseguinte, após revelar a própria verdade.

Reflexão de Nietzsche, "Humano, Demasiado Humano" (citador.pt)
A Mentira
"Porque é que, na maior parte das vezes, os homens na vida quotidiana dizem a verdade? Certamente, não porque um deus proibiu mentir. Mas sim, em primeiro lugar, porque é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. Por isso Swift diz: «Quem conta uma mentira raramente se apercebe do pesado fardo que toma sobre si; é que, para manter uma mentira, tem de inventar outras vinte». Em seguida, porque, em circunstâncias simples, é vantajoso dizer directamente: quero isto, fiz aquilo, e outras coisas parecidas; portanto, porque a via da obrigação e da autoridade é mais segura que a do ardil. Se uma criança, porém, tiver sido educada em circunstâncias domésticas complicadas, então maneja a mentira com a mesma naturalidade e diz, involuntariamente, sempre aquilo que corresponde ao seu interesse; um sentido da verdade, uma repugnância ante a mentira em si, são-lhe completamente estranhos e inacessíveis, e, portanto, ela mente com toda a inocência.(...)"

Por essa reflexão, prefiro receber a verdade do agente do que a mentira.
E assim faço também, por isso talvez não seja uma pessoa muito amigável.
Certa vez encontrei com uma amiga que me perguntou se a cor do seu cabelo estava bonita, pois havia acabado de tingir.
Era um tom loiro cor de gema de ovo. Deixou seu rosto com 20 anos a mais, parecia vulgar. Mas esta era a minha opinião e eu jamais iria gostar de estar ridícula sem ter tal percepção e sem receber a opinião verdadeira de quem eu realmente gostaria de ter a opinião verdadeira.
Assim, entendi que a minha opinião para ela, seria relevante, do contrario não perguntasse! e respondi: "não ficou legal para o seu tom de pele, a raiz está aparecendo e tom loiro é cor de gema de ovo, peça opinião de um especialista, relaxe por hoje! mas se você se sente bem, minha opinião é apenas um capricho para a tua opinião sobre si mesma, neste momento"
E por se tratar de uma pessoa que me conhece, não foi a ela algo ofensivo, mas sim honesto.
Oras, por que dizer o contrário do que sentimos, se nos perguntam é porque nossa opinião é relevante (ou não...).
Imagine se eu ocultasse o que pensei e dissesse que estava "lindo" o tom do cabelo dela? seria horrível para mim, posteriormente, em uma situação parecida, ter que elogia-lo novamente. Eu teria que sair de mim mesma.
Portanto em algumas situações, mais vale revelar a verdade do que se manter na mentira, pois passamos a ser ridículos por não conseguir mante-la depois.
Nossas próprias ações nos revelam, o grande observador, aquele que se atenta aos detalhes, percebe a mentira e por traz dela, detecta a fraqueza do agente que mentiu.

Reflexão de Marcel Proust, "A Fugitiva" (citador.pt)
Mentimos para Proteger o nosso Prazer
"A mentira é essencial à humanidade. Nela desempenha porventura um papel tão importante como a procura do prazer, e de resto é comandada por essa mesma procura. Mentimos para proteger o nosso prazer, ou a nossa honra se a divulgação do prazer for contrária à honra. Mentimos ao longo de toda a nossa vida, até, e sobretudo, e talvez apenas, àqueles que nos amam. Só estes, com efeito, nos fazem temer pelo nosso prazer e desejar a sua estima."

Pela máxima de Heráclito, tudo flui.
A essência do homem, aprimora-se em fragmentos de segundos, não havendo nem passado e tampouco o futuro. Apenas estima-se o que foi e o que virá.

O que me parece mais importante é a honestidade.
E a honestidade gera conflitos entre opostos e só assim é possível atingir a harmonia.
Mas quem está disposto a enfrentar a consequencia da honestidade? e quem é honesto quando mente ou quando diz a verdade?

A essência do ser humano é aprimorada, na mesma velocidade dos acontecimentos a sua volta.
Todo ser humano mente, seja para proteger alguém, (mais entendo como proteger a si mesmo), seja por vaidade, enfim...Toda mentira é válida, o que importa aqui é compreender a recepção da mentira e como fica o nosso papel mediante a quem a recebeu.
A opinião de outrem incomoda por dois motivos: ou porque trata-se de uma pessoa cuja opinião é de extrema relevância para nossa vaidade ou porque não há confiança em si próprio (ou amor próprio).

Portanto a mentira torna-se negativamente relevante quando surta efeito contrário àquilo que se pretende com ela, sendo muito mais válido em alguns casos, atuar com a verdade, em favor da honestidade com aquilo que acreditamos/somos/desejamos.
E por outro lado, a verdade passa a ser irrelevante quando aquele que a recebe a tem como superficial, uma vez que a certeza de si mesmo é o ápice da questão levantada para o outro.

Assim, o que vale mais? a verdade ou a mentira?
Relativamente dizendo, qualquer uma.
É a honestidade que faz a diferença entre os seres humanos, ainda que dura e crua, perpetua o bom nível de contato entre pessoas de ideais comuns.

O homem está viciado em encarar suas próprias regras como suprema, é individual e o egocentrismo extrapolou a margem da sua própria natureza.

Verdade ou mentira? quem é honesto nos dias atuais?

Carla lacrimae  paz - 25 fev 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Naufragar o amor: homenagem a vida.

Meu espírito errante despertou-me com o barulho
das asas do sabido desengano
e meus suspiros cessados
...corações sobressaltados.

Aquele condenado silencioso abraço
intento insípido nevoente!
como balsas dentro de orvalhos e
violetas violentas

olhos cegos da donzela das palavras
esculpida com aspereza gentil
da aparencia do insultado.

Gloria! olhos cegos e canto mudo
sonho árduo, derradeiro amado
Semblante de cetim, enamorado.

Quimera do afeto condenado
Sentimento aflorado,
evergonhado e enterrado.

Impelido o amor
de tão grande esplendor
no mar que segue, nessa ida
ficam as lembranças do que não
é ódio e nem tampouco amor.

É sim, a gloriosa arte da vida.



Carla Laforgia paz 01-02-2011 

 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Duçura Louca

Louca alma noturna
pegou-me de assalto
num tormento impróprio
das melodias tristes.
Faça-me transbordar
em lágrimas sucumbindo
a essencia mísera feliz
das lembranças boas
que se perderam por
não existirem
E do que consiste a vida
senão da inutil sensação
de alegria que encobre
e disfarça a gostosa nostalgia?
Alma incompreendida
contente melancolia
Companhia apenas
eu com a alma minha.

Carla Laforgia paz - Dez-2010











*tanto amor naufragado que...o mar, oceano...tudo...tranformou-se em puro amor...de forma que nada portanto naufraga...quando há puro amor...(23-09-11)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

citações de Sêneca -

"Justamente aquelas coisas que provocam mais medo são menos temíveis."

"A vida, sem uma meta, é completamente vazia."

"Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte."

"Todos os meus bens estão comigo."

"Os fatos devem provar a bondade das palavras."

"Aquilo que foi doloroso suportar torna-se agradável depois de suportado; é natural sentir prazer no final do próprio sofrimento."

"O amor não se define; sente-se."

"A ignorância, ou melhor, a demência humana é tão grande que alguns são levados à morte justamente pelo medo da morte."

"Este é o único motivo pelo qual não nos podemos queixar da vida: ela não segura ninguém."

"O início da salvação é o conhecimento da culpa."

"Cada um é tão infeliz quanto acredita sê-lo."

"Devemos ir buscar a coragem ao nosso próprio desespero."

"Do mal não pode nascer o bem, assim como um figo não nasce de uma oliveira: o fruto corresponde à semente."

"Que se cale aquele que fez um benefício. Que o divulgue aquele que o recebeu.'"

“Não é uma questão de morrer cedo ou tarde, mas de morrer bem ou mal.
Morrer bem significa escapar vivo do risco de morrer doente.”


              

NDALU DE ALMEIDA ( ONDJAKI ) Poeta angolano

IV
há no silêncio do ar
uma paz autorizada...
um murmúrio lírico
no renascimento
de cada momento.
o pássaro brinca entre uma nota de assobio
e um sopro de vento.
a borboleta adormece — encantada.
(...)
para haver paz
há que caminhar silêncios.

V
quero o aconchego
da sombra.
da árvore.
a sua frescura
a sua candura.
quero o seu caule
sólido
a maciez da sua seiva
a dureza da sua raiz.
quero a paz das suas folhas
deitadas
deleitadas
adormecendo — na paz do tempo.

VII
só na ilusão da asa
o ser se sonha.
seu degredo. sua afluência.
quantas vezes
sem consciência.
só no silêncio da asa
o ser se sonha.
pouco enredo. pouca ciência.
raras vezes
em abstinência.
só na solidão da asa
o ser se silencia.

(fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/angola)/ndalu_de_almeida.html)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

desejos

Que os sentimentos mais belos de toda beleza do ser humano
sejam grudados na alma de cada ser humano

Carla Lacrimae Paz


*...continua em outra hora





Mundo apenas meu....

Gosto das atitudes que me desligam do certo.
E tudo o que considero certo, no dia seguinte já corrigi para o errado.
Sou sentimentalista e dramática quando preciso chorar.
Me arranjo com a feiura da realidade do fim, do não existir, do que não há.
Caminhos da minha vida sempre foram sangrentos, desumanos, azarentos.
Nada me destroe, me convence, me acolhe, senão eu mesma para mim mesma, na realidade que me iludo quando crio meu mundo.
Meu mundo...

Carla Lacrimae Paz - jan-2011




Baladas Românticas - Olavo Bilac

Verde... Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!...
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho...
Como me pesa a solidão!

Órfão de amor e de carinho,
Órfão da luz do teu olhar,
- Verde também, verde-marinho,
Que eu nunca mais hei de olvidar!
Sob a camisa, alva de linho,
Te palpitava o coração...
Ai! coração! peno e definho,
Longe de ti, na solidão!

Oh! tu, mais branca do que o arminho,
Mais pálida do que o luar!
- Da sepultura me avizinho,
Sempre que volto a este lugar...
E digo a cada passarinho:
"Não cantes mais! que essa canção
Vem me lembrar que estou sozinho,
No exílio desta solidão!"

No teu jardim, que desalinho!
Que falta faz a tua mão!
Como inda é verde este caminho...
Mas como o afeia a solidão!

Olavo Bilac, in "Poesias"

As lágrimas que não vieram

Se ao menos eu pudesse desculpar-me
...tentaria forçar o lacrimejar dos meus olhos
não há motivo para arrepender-se

Se ao menos eu pudesse tentar me curar
...sentiria a dor da ardencia na pele
não há ferida que me faça sentir dor

Se ao menos eu pudesse olhar para traz
...sentira saudades ou lástima de mim mesma
não há lembranças passadas e nem acontecimentos vindouros

Se ao menos eu pudesse sentir e de sentir perceber todo o acontecimento da vida como jamais antes sido por mim
notado...
choraria minha lágrimas contidas...

Carla Laforgia paz. - qualquer momento deste ano de 2011