sexta-feira, 17 de junho de 2011

O receio

O receio

"Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem." Jean Paul Sartre. 

O sentimento de medo traz várias interpretadões e acredito que estas dependem do contexto do que estamos vivendo e de tudo o que já vivemos, assim, o que está por vir, seja relativo a algo que não conhecemos ou a alguma experiência vivida por nós ou outrem..., traduz em si a sensação do "estranho" e essa sensação pode ser muitas vezes apenas "cautela", sentimento este inerente ao ser humano. (postado em Indagações filosóficas)

É livre a sensação de receio, é livre a cautela mediante decisões, é livre o sentimento de medo por algo novo. Contudo, este estado de "livre" subestima a idéia real de liberdade.

Defendo a idéia de que liberdade está em dizer não. É difícil negar algo pra si e muito mais difícil negar algo para outrem. O dizer não está implícito a tudo, porque todo sim, impele o não. Mas o não de forma literal não induz ao sim.

Negar algo para si mesmo significa estar livre da futura questão do arrependimento e negar algo para outrem significa estar livre das consequencias vindouras das ações que não dependem de nossas vontades.(devir)

Liberdade seria poder dizer não? (o que não cabe aqui a interpretação com relação ao egocentrismo natural do ser humano pois por questão valorativa de si mesmo faz-se necessário ser egoísta.)

Quando nos encontramos na dificuldade de agir em liberdade, geralmente é por causa do efeito que causará no outro...daí lembramos da afirmativa de Sartre "o inferno são os outros" e podemos atribui-la a essa dificuldade? talvez sim, há sempre o elemento externo que bloqueia nossas decisões do não. Há sempre uma reflexão involuntária.

É imprescindível a existência do externo, seja pessoas ou ambientes, para sentirmos a liberdade e é preciso existir o medo, para atingirmos a liberdade. Sem o enfrentamento do medo, do receio, não há que se falar em liberdade. Vejamos que há uma grande diferença entre sentir a liberdade e atingir a liberdade.

É livre o ir e vir, dizer o que se pensa e aquilo que queremos que os outros pensem, ainda que em desacordo com o que acreditamos (seria o nosso palco teatral cuja peça ora é dramática, ora é comedia, ora é imitação da vida real), isto seria sentir a liberdade. Mas como atingir a liberdade de fato?

Nos pautamos ora ou outra a momentos passados, experiências que tivemos ou ainda, e o que é pior, experiências alheias quando alguém a qual confiamos ou simplesmente admiramos atribui aos nossos pensamentos, ideias que não são bem na verdade, nossas. A vida fica estacionada num tempo e a esse tempo chamo de momento inútil do pensamento. Estamos aí diante de uma incógnita cuja decisão se deu por indução alheia a nossa vontade. Deixamos portanto de vivenciar o momento, o nosso momento, vivenciando inconscientemente o pensamento dos outros ou levando em relevância experiências passadas ou ainda pior, antecipando sofrimentos futuros. Apaga-se portanto, atingir a liberdade. Apenas a sentimos, mas não atingimos.

Para o mundo, temos nossas convicções como armas.  Para nós mesmos, somos pura e simples existência em confronto com nossa essência

Dizer não seria a real sensação da liberdade no enfrentamento do receio, do medo.
O sim, é prazeroso, é a aceitação de algo que se esperava, dizer não é libertador, diria que causa a sensação real de ser dono de si sem dependência alguma do outro ou ambiente.
O sim determina expectativa, o não determina a quebra de um laço cuja única expectativa está no próprio não.


O pior medo é negar o próprio medo e sentir temor de sentir medo do novo...
Carla Lacrimae paz

"Do que tenho medo é do teu medo." Shakespeare

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