quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Antes que Seja Tarde - Manuel da Fonseca

Amigo, 
tu que choras uma angústia qualquer 
e falas de coisas mansas como o luar 
e paradas 
como as águas de um lago adormecido, 
acorda! 
Deixa de vez 
as margens do regato solitário 
onde te miras 
como se fosses a tua namorada. 
Abandona o jardim sem flores 
desse país inventado 
onde tu és o único habitante. 
Deixa os desejos sem rumo 
de barco ao deus-dará 
e esse ar de renúncia 
às coisas do mundo. 
Acorda, amigo, 
liberta-te dessa paz podre de milagre 
que existe 
apenas na tua imaginação. 
Abre os olhos e olha, 
abre os braços e luta! 
Amigo, 
antes da morte vir 
nasce de vez para a vida. 

Manuel da Fonseca

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Delirios

Nesta noite, quando o vento gela minha pele
parece que este vento se fez gélido para me acordar
mas sempre penso que acordo todos os dias,
mas sempre penso que sou uma nova mulher
mas sempre há quem gritará pertinho dos meus ouvidos
me fazendo lembrar que tudo é igual.

Nesta sensação de corpo frio como um cadáver de alma quente e quebrada
parece que esta alma me engana fingindo estar despedaçada
há um vulcão dentro de mim a espera de uma novidade
há um vulto que me cerca dizendo-me para abrir meus olhos
há um som triste da natureza mostrando-me desesperada o que não consigo ver


Nesta chama que me queima e faz sair de mim gritos e gemidos
minha exclamação se veste de interrogação e assim uma brinca com a outra
o engano de ver o que não quero e ouvir o que não devo
o engano de querer quem não quero e não querer quem eu quero
o engano de errar e errar e errar, tateando a esfera da arte de amar

Neste encontro, nunca encontrei, noutros encontros, jamais encontrarei
saber amar, é mais fácil do que se deixar amar
fugir do amor desvirtuando palavras, deturpando intenções
fugir do amor fazendo piadas, transformando o amado em amigo
fugir do amor fingindo força, fingir negar o sentimento

Neste dia, escutei com o coração todos os sons da natureza
minha alma já então fortalecida, sente a força
minha alma já então agradecida, assume a covardia minha
minha alma já então pelando, sabe que haverá um amor
amor mais forte do que o meu sentir de amor
amor que me enfrenta e me fará delirar

delirar de febre de tanto amor receber
e por isso tirei minhas vendas, porque agora tudo quero ver
ver o amor delirar, ferver

Carla Lacrimae paz


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cérebro Humano / Mentes brilhantes

Documentarios pertinentes acerca da nossa mente.

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"O cérebro é o parasita ou o pensionista do organismo inteiro." Schopenhauer

"Acho que damos pouca atenção àquilo que efectivamente decide tudo na nossa vida, ao órgão que levamos dentro da cabeça: o cérebro. Tudo quanto estamos por aqui a dizer é um produto dos poderes ou das capacidades do cérebro: a linguagem, o vocabulário mais ou menos extenso, mais ou menos rico, mais ou menos expressivo, as crenças, os amores, os ódios, Deus e o diabo, tudo está dentro da nossa cabeça. Fora da nossa cabeça não há nada." Saramago
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O funcionamento do cérebro humano - Discovery






 "Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura." Aristóteles
"Não tenho nada a declarar a não ser a minha genialidade." Oscar Wilde
"Um homem de génio é insuportável se, além disso, não possuir pelo menos duas outras qualidades: gratidão e asseio." Nietzsche
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Mentes Brilhantes













segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Amar o ser em sua essência.


O Amor é a Mais Forte das Paixões 
Por que é que gozamos com cada nova beleza que descobrimos no que amamos? Porque cada nova beleza nos dá a inteira e total satisfação de um desejo. Se a queremos sensível ela será sensível. Se em seguida a queremos orgulhosa como a Émilie de Corneille, embora estas duas qualidades sejam provavelmente incompatíveis, ela aparece imediatamente com uma alma romana. É esta a razão moral porque o amor é a mais forte das paixões. Nas outras, os desejos têm que se acomodar às tristes realidades; nesta, são as realidades que se apressam a identificar-se com os desejos; ela é, portanto, a paixão em que os desejos violentos têm uma maior realização.

Stendhal

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A Alma Transforma-se em Sensações 
Eis um efeito que me será contestado, e que só apresento aos homens que, digamos, são bastante infelizes para terem amado com paixão durante longos anos, dum amor contrariado por obstáculos invencíveis:
A vista de tudo o que é extremamente belo, tanto na natureza como nas artes, traz-nos a recordação do que amamos, com a rapidez de um relâmpago. É que, pelo processo do ramo de árvore guarnecido de diamantes da mina de Salzburgo, tudo o que no mundo é belo e sublime faz parte da beleza do que amamos, e esta visão imprevista da felicidade enche-nos os olhos de lágrimas num instante. É assim que o amor do belo e o amor se dão vida um ao outro.
Uma das infelicidades da vida é que a ventura de ver a quem amamos e de lhe falar não deixa recordações distintas. Aparentemente, a alma está demasiado perturbada pelas suas emoções para poder prestar atenção ao que as causa ou as acompanha. Transforma-se na própria sensação. É talvez porque estes prazeres não se podem renovar sempre que queremos, por simples força de vontade, que se renovam com tanta força, desde que um objecto qualquer nos venha tirar da meditação consagrada à mulher que amamos, e lembrar-no-la mais vivamente por meio de uma nova sugestão (o perfume dela, por exemplo).
Stendhal
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No Amor, o Homem Deve Tomar a Iniciativa 
O pudor inibe a mulher de provocar certas carícias, mas sente prazer em recebê-las quando outro as começa. Sim, um homem tem em demasiada conta as suas qualidades físicas, se espera que seja a mulher a primeira a rogar. É ao homem que compete começar, é ao homem que compete pronunciar as palavras suplicantes; a ela acolher favorávelmente as suas brandas preces. Queres possuí-la? pede. Ela deseja tanto como tu ser rogada. Explica-lhe a causa e a origem do teu amor. Júpiter dirigia-se suplicante às antigas heroínas; apesar do seu poder, nenhuma o vinha provocar.
Mas se as tuas preces se quebram na distância dum orgulho desdenhoso, abandona o que começaste e recua. Como elas desejam o que lhes escapa, e detestam o que está ao seu alcance! Sendo menos insistente, não mais serás repelido.
E a esperança de alcançares os teus fins nem sempre deve aparecer nos teus pedidos; que o amor penetre sob o nome da amizade. Vi mulheres esquivas serem enganadas desta maneira: o que fora seu cortesão, tornara-se seu amante.

Ovídio
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A Cegueira do Amor  
Desde que se ame, o mais sensato dos homens não vê nenhum objecto tal como é. Exagera para menos as suas próprias vantagens e para mais os menores favores do objecto amado. Os temores e as esperanças transformam-se imediatamente em algo de romanesco. Deixa de atribuir seja o que for ao acaso; perde o sentido das probabilidades; uma coisa imaginada é uma coisa existente que influi na sua felicidade.
Um signo aterrador de que se está a perder a cabeça é que, ao pensar em qualquer facto, por minúsculo e difícil de observar que seja, o vejamos branco e o interpretemos em favor do nosso amor; um instante depois, verificamos que na realidade era negro, e mesmo assim ainda o achamos favorável ao nosso amor.
É nessa altura que uma alma presa de mortais incertezas sente vivamente a necessidade de um amigo; mas para um amante já não há amigos, como muito bem se sabia nas cortes. Eis a fonte da única espécie de indiscrição que uma mulher é capaz de perdoar.

Stendhal
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As Quatro Ignorâncias do Amante  
Quatro ignorâncias podem concorrer em um amante, que diminuam muito a perfeição e merecimento de seu amor. Ou porque não se conhecesse a si: ou porque não conhecesse a quem amava: ou porque não conhecesse o amor: ou porque não conhecesse o fim onde há-de parar, amando. Se não se conhecesse a si, talvez empregaria o seu pensamento onde o não havia de pôr, se se conhecera. Se não conhecesse a quem amava, talvez quereria com grandes finezas a quem havia de aborrecer, se o não ignorara. Se não conhecesse o amor, talvez se empenharia cegamente no que não havia de empreender, se o soubera. Se não conhecesse o fim em que havia de parar, amando, talvez chegaria a padecer os danos a que não havia de chegar se os previra.

Padre António Vieira,
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Amar é Raro 


Casimiro de Brito
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Nunca Nos Separamos do Primeiro Amor
  Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele.
Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.

Marguerite Duras,
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É Preciso Aprender a Amar 
Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar, mau-grado a sua novidade — para admitir o seu aspecto, a sua expressão fisionómica — e de caridade — para tolerar a sua estranheza; chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele.
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.

Friedrich Nietzsche
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A Realidade do Amor 
Que sempre existam almas para as quais o amor seja também o contacto de duas poesias, a convergência de dois devaneios. O amor, enquanto amor, nunca termina de se exprimir e exprime-se tanto melhor quanto mais poeticamente é sonhado. Os devaneios de duas almas solitárias preparam a magia de amar. Um realista da paixão verá aí apenas fórmulas evanescentes. Mas não é menos verdade que as grandes paixões se preparam em grandes devaneios. Mutilamos a realidade do amor quando a separamos de toda a sua irrealidade.

Gaston Bachelard
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Amar Intensamente 
De que vale no mundo ser-se inteligente, ser-se artista, ser-se alguém, quando a felicidade é tão simples! Ela existe mais nos seres claros, simples, compreensíveis e por isso a tua noiva de dantes, vale talvez bem mais que a tua noiva de agora, apesar dos versos e de tudo o mais. Ela não seria exigente, eu sou-o muitíssimo. Preciso de toda a vida, de toda a alma, de todos os pensamentos do homem que me tiver. Preciso que ele viva mais da minha vida que da vida dele. Preciso que ele me compreenda, que me adivinhe. A não ser assim, sou criatura para esquecer com a maior das friezas, das crueldades. Eu tenho já feito sofrer tanto! Tenho sido tão má! Tenho feito mal sem me importar porque quando não gosto, sou como as estátuas que são de mármore e não sentem.

Florbela Espanca
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O Amor é Muito Difícil  
Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer.

José Luís Peixoto
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Arthur Schopenhauer - Mais Vale ser Estimado que Amado





Mais Vale ser Estimado que Amado

Rochefoucauld observou de maneira pertinente que é difícil, ao mesmo tempo, ter em alta estima e amar muito a mesma pessoa. Teríamos, então, de escolher entre querer ganhar o amor ou a estima dos homens. O seu amor é sempre interesseiro, embora de maneiras bem diversas. Além do mais, a condição que nos permite conquistá-lo nem sempre é apropriada para nos orgulharmos. Antes de mais nada, uma pessoa é tanto mais amada quanto mais moderar as suas expectativas em relação ao espírito e ao coração dos outros; e tudo isso a sério, sem fingimento, e não apenas devido à indulgência enraizada no desprezo. Recordemos aqui o dito verdadeiro de Helvécio: «O grau de espírito necessário para nos agradar é uma medida bastante exacta do grau de espírito que possuímos». E assim chegamos à conclusão iniciada pelas premissas. Por outro lado, quando se trata da estima dos homens, dá-se o contrário: esta só lhes é arrancada contra a vontade; por isso, na maioria das vezes é ocultada. Desse modo, ela proporciona-nos uma satisfação interior bem maior, pois está relacionada ao nosso valor, o que não vale imediatamente para o amor dos homens, já que este é subjectivo, enquanto a estima é objectiva. Decerto, todavia, o amor nos é mais útil.

Arthur Schopenhauer

domingo, 21 de agosto de 2011

- A Vida Real de um Pensamento - "reflexao"

Os pensamentos surgem de duas formas: mundo interno e externo.
Tudo aquilo que o ser humano vê e lê, é absorvido, assim como, tudo o que vê e lê passam a fazer parte do quadro que compõe sua experiência de vida.

Os pensamentos nascidos do mundo externo possibilitam adquirir discernimento, assimilação do que lhe é correto ou incorreto, atribuição da ética e moral de acordo com a cultura do lugar em que vive e da forma educacional recebida no seio familiar e sociedade.

Os pensamentos que brotam do mundo interno, penso ser o que carateriza o ser humano como racional, embora, nossos atos de forma geral, são irracionais, quando estes são feitos ao calor do emocional, do impensado, do viver o momento de maneira pura, o agir por instinto animal.
Embora exista essa irracionalidade, o ser humano tem a faculdade da consciência do pensar.
E como nascem os pensamentos brotados do mundo interno?
Diria que nascem no momento em que um outro pensamento morre.
Ao extravasar, dizer, falar, escrever, o pensamento passa a não pertencer mais no nosso mundo interno, ele é transmitido para o externo e deixa de ser um pensamento único por razão da troca de conhecimento e da auto-reflexão pois ao ser transmitido, acabamos por repensar o pensamento dito e é neste momento que nasce um novo pensamento.

Tudo o que pensamos deve ser extravasado?
Não. Porque não há sempre equilíbrio entre a razão e a emoção. Desta forma, colidem pois tão logo pensei e disse, que já modifiquei o pensamento no mesmo instante, e não há possibilidade de desdizer, desfazer.
Pensar antes de extravasar o pensamento...contudo, por mais que acreditamos nessa racionalidade ante a emoção, é possível confundi-las e troca-las sem perceber, de posição. Ao pensar muito sobre o que dizer e o que não dizer no momento de um determinado pensamento, estamos racionalmente nos protegendo contra qualquer golpe que possa ser atingido em nosso emocional.

Os pensamentos são de uma certa forma, comandados por algo que desejamos. A ponderação do sim e do não, do bom e do ruim, muitas vezes conceituadas erradas (contudo, é subjetiva e se auto modifica de acordo com o discernimento adquirido com experiência de vida (mundo interno) aliado com a absorção do que recebemos (mundo externo)), pode afogar a possibilidade da realização do desejo que está no comando de tal pensamento.

A percepção desse afogar, do perder, deixar de realizar, só é adquirida após extravasar o pensamento.

Se não é o ideal dizermos tudo, como o externo saberá do que desejamos?
Se meus pensamentos morrem e nascem na medida em que digo o que penso e com esse pensar crio desejos, como poderei satisfaze-los sem colidir o racional com o emocional?

Particularmente, embora já tenha afogado inúmeros desejos, prefiro o extravasar. Não no sentido ofensivo e inapropriado garantindo deturpação de outrem, mas no sentido de dizer e fazer para se satisfazer, tendo em mente que o resultado ou será bom ou será nada, pois o nada já existe quando o desejo não é (ainda) realizado.
Aqueles que extravasam, são corajosos e por um outro lado, perigosos, pois são tão certos de si e inteligentemente equilibrados racionalmente e emocionalmente na maioria das vezes que, nos fazem sair da realidade dos pensamentos externos para descobrirmos o quanto é maior o nosso mundo pensante interno.

E ter a noção dessa grandeza, é um choque, contudo, é um navegar delicioso pois, brotam novos grandes pensamentos.

Embora eu esteja ainda incerta se é bom ou não extravasar, por ora, este é o pensamento que se vai, mas que nasceu do externo mundo musical e artístico.


A Vida Real de um Pensamento

A vida real de um pensamento dura apenas até ele chegar ao limite das palavras: nesse ponto, ele lapidifica-se, morre, portanto, mas continua indestrutível, tal como os animais e as plantas fósseis dos tempos pré-históricos. Essa realidade momentânea da sua vida também pode ser comparada ao cristal, no instante da cristalização.
Pois, assim que o nosso pensamento encontra as palavras, ele já não é interno, nem está realmente no âmago da sua essência. Quando começa a existir para os outros, ele deixa de viver em nós, como o filho que se desliga da mãe ao iniciar a própria existência. Mas diz também o poeta:

Não me confundais com contradições!
Tão logo se fala, já se começa a errar.


Arthur Schopenhauer

Bocage

Cede a Filosofia à NaturezaTenho assaz conservado o rosto enxuto 
Contra as iras do Fado omnipotente; 
Assaz contigo, ó Sócrates, na mente, 
À dor neguei das queixas o tributo. 

Sinto engelhar-se da constância o fruto, 
Cai no meu coração nova semente; 
Já me não vale um ânimo inocente; 
Gritos da Natureza, eu vos escuto! 

Jazer mudo entre as garras da Amargura, 
D'alma estóica aspirar à vã grandeza, 
Quando orgulho não for, será loucura. 

No espírito maior sempre há fraqueza, 
E, abafada no horror da desventura, 
Cede a Filosofia à Natureza. 

Bocage

 Amor Sem Fruto, Amor Sem EsperançaAmor sem fruto, amor sem esperança 
É mais nobre, mais puro, 
Que o que, domando a ríspida esquivança, 
Jaz dos agrados nas prisões seguro. 
Meu leal coração, constante e forte, 
Vendo a teu lado acesos, 
Flérida ingrata, os ódios, os desprezos, 
O rigor, a tristeza, a raiva, a morte, 
Forjando contra mim, por ordem tua, 
Mil setas venenosas, 
Em prémio destas lágrimas saudosas, 
Inda assim continua 
A abrasar-se em teus olhos... Vis amantes, 
Corações inconstantes, 
De sórdidas paixões envenenados, 
Vós, a cujos ardores, 
A cujos desbocados 
Infames apetites 
A Virtude, a Razão não põe limites, 
Suspirai por ilícitos favores, 
Cevai-vos em torpíssimos desejos, 
Tratai, tratai de louco um amor casto, 
Que eu nos grilhões que arrasto; 
Tão limpos como o Sol, darei mil beijos. 
Peçonhenta aliança, 
Vergonhoso prazer, de vós não curo; 
De ti, sim, porque és puro, 
Amor sem fruto, amor sem esperança. 

Bocage
Fiei-me nos Sorrisos da VenturaFiei-me nos sorrisos da ventura, 
Em mimos feminis, como fui louco! 
Vi raiar o prazer; porém tão pouco 
Momentâneo relâmpago não dura: 

No meio agora desta selva escura, 
Dentro deste penedo húmido e ouco, 
Pareço, até no tom lúgubre, e rouco 
Triste sombra a carpir na sepultura: 

Que estância para mim tão própria é esta! 
Causais-me um doce, e fúnebre transporte, 
Áridos matos, lôbrega floresta! 

Ah! não me roubou tudo a negra sorte: 
Inda tenho este abrigo, inda me resta 
O pranto, a queixa, a solidão e a morte. 

Bocage

















"Vai sempre avante a paixão,
Buscando seu doce fim;
Os amantes são assim:
Todos fogem à razão."


"Morrer é pouco, é fácil; mas ter vida
Delirando de amor, sem fruto ardendo,
É padecer mil mortes, mil infernos."


SONETO DO PRAZER MAIOR
 
Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,

Depois da meia-noite na janela:
Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;

Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:
Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,

E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:
Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.






 

sábado, 20 de agosto de 2011

sem música...nada seria

Lágrimas

"Depois da vida, tudo quanto de mais valioso podemos dar é uma lágrima."  Alphonse Marie Louis de Lamartine

Lágrimas,
essas águas de pequenas gotas,
sem quantidade ou intensidade certa
no intento de molhar o rosto
Nascem na alma e dela saem
no mais profundo choro

Nem sempre o choro vem em lágrimas
a expressão do rosto se contraem
e mesmo assim é possível vê-las
...ah essas lágrimas, gotas pequenas

Chorei ao som da musica orquestrada
lágrimas vieram como se fossem dançar
os passos da mágica
enganando meus sentidos...
deixando-me contra mim mesma

Lágrimas,
vieram do prazer, da saudade de não fazer
do lamento do não acontecer
da moral erroneamente instalada
uma mulher puramente apaixonada

aos beijos, memorias que não deveriam existir
as lágrimas, me fizeram sofrer e sorrir
arrepender-me e culpar-me
sentir-me mais boba e tola
desejo indesejável,
correto e incontrolável

lágrimas do vir-a-ser
lágrimas de quem se foi
e não fez acontecer...


C.L - 20-08-11 . sábado chuvoso, frio e tenebroso.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Familia

"A família é apenas um aborrecido rebanho de gente que não tem o mais remoto conhecimento de como viver nem o menor instinto sobre o momento de morrer." Oscar Wilde

Na casa a qual vivi, aprendi sobre a família
Também me empurraram numa grande armadilha
Deveria ir aos domingos, rezar, confessar, pedir benção
Todos almoçando e jantando juntos, um descontentamento hilário
Parentes chegavam, nos feriados religiosos, abraços e beijos melados

Em contra partida, havia um pássaro naquela casa
De liberdade de pensamento e ações
que me ensinou mais ainda sobre a família
Família é quem você escolhe, o amor deve ser de dentro e não por imposição.
Pode amar a mãe, o tio, o vizinho, o cachorro, ou não

Familia impõe o amor, o convívio, a união,
A imposição só deve ter validade quando há bondade no coração
O sentimento de amor familiar apenas é limpo quando teu pulsar escolhe
quem amar

Não se exige troca, pois a troca está no simples sentir
Familia agente escolhe
Por amigos agente morre
Chora, abraça, beija, briga, sente raiva.
Exige a presença, entende a ausencia, grita, ama, e desabafa

A familia imposta, desgasta, sufoca, é oca, é falsamente gentil
A familia escolhida é cheia de graça, vem e vai embora,
Erra e concerta, diz adeus e não vai,
E será sempre no coração da gente, que ela mora.

Na casa a qual vivi, fui sufocada pela familia
Mas aprendi com o pássaro solitário
Que isso seria um fardo
Contudo, há o outro lado
Mais belo e mais profundo na arte do viver

Familia é quem você escolhe para estar com você.

Carla Lacrimae paz

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O nobre está na emoção do afeto e admiração.

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinteressada delas. Eu sou ao contrário: o tempo passa e a afeição vai crescendo, morrendo apenas quando a ingratidão e a maldade a fizerem morrer." Florbela Espanca

Não seria perder aquela estrada rumo ao amor,
.....que me tiraria a esperança de encontrar o amor,

Nem sair do caminho o qual parecia ser o certo,
.....e acabar por deliciar-me com o desvio tortuoso

E descobrir que jamais serei capaz de entender quem me ama,
.....porque entendi que não sei amar

De forma alguma, deixar de dizer te amo
.....nunca mais ouvir Amo você

Não seria deixar de amar, deixar de ser amada,
Me perder em lágrimas da frustração
Ter o medo de dizer não a quem não amo
Ter o medo de dizer sim a quem me ama
Ser incerta a minha declaração
Interpretar mal o encantamento de amor que recebo ou penso que recebo

O que me faz perder a cabeça, o rumo, a vontade de seguir
ocorre quando deixo de admirar e sentir afeto por alguém

A admiração e o afeto por alguém são sentimentos nobres.
Quando os sinto, invade uma emoção sem tamanho em meu peito
Mas quando percebo que estou a perde-los, meu chão se abre
e eu me perco.
Me chateio, caio em lágrimas, quase um desespero
Porque depois, não me lembrarei desse momento
a pessoa a qual admirava, já teria morrido aqui dentro.

Carla Laforgia paz

De todo o subconsciente

De todos os sons que já escutei de ti
De todas as suas palavras que li
De todas as sensações que me causas-te

De todas as hipóteses que criamos
De todos os sins que proferimos
De todas as nossas certezas impuras

De todo o nosso querer amar
De todo o nosso tentar querer
De todo o nosso incerto puro

De todos os momentos até aqui
De todos os sentimentos que extraímos
De todo o meu e o seu poente

De todo....
........eu apenas na sua mente não percorri
Não tenho certeza se seria bom ou ruim
De todo o nosso hesitar

.........sonho em poder, na tua mente um pouco percorrer
pra que não termine antes de chegar ao fim
.......................o todo que sonhamos pra nós até aqui.
De todo! aquele todo inconseqüente, guardado no seu subconsciente.

Carla Lacrimae paz

sábado, 6 de agosto de 2011

Nota sobre o silencio

A arte de silenciar é uma tarefa difícil.
Não basta calar-se, é necessário haver
sentimento forte o suficiente para se declinar ao silencio.

Nada ruim há no silencio...já que nele contém uma voz gritante muitas vezes maior
do que o ato de falar.
O que torna-se desagradável quando há silencio, é quando o receptor está declinado a sentimentos belos pelo silenciador.

O silencio, dizem os pensadores, diz muito, mas o receptor interpreta de acordo com
a sua dor.
Há momentos em que o silencio é necessário. Mas também há momentos em que
a simplicidade está na expressão do sim e do não. Eis no meu modo de pensar
a real arte do silencio posterior.
Mas quem há de querer ver importância na interpretação do outro?
Muito provável que nem mesmo o receptor do silencio deseje a compreensão.
Ambos os lados denotam grito, seja no silencio, seja no ato de falar.
O próprio silencio é uma forma de ação, de dizer. O difícil é recebe-lo e não saber interpretar.
Ao sentir certa importância por alguém, o silencio deste deixa um gosto amargo entre os lábios.
O silencio quando não notado, é porque a pessoa que silencia nos é indiferente. Silencio assim, não dói.

Contudo...o silenciador está sempre com uma vantagem...ele sabe do que o receptor não sabe.
E penso ser exatamente essa condição, a maior dor que possa causar em alguém. Estar em
desvantagem na arte do saber...
O silêncio diz tudo, mas também quebra tudo o que há na alma daquele que a recebe.
Insistir a quebra do silencio vale para que lhe digam qualquer coisa cuja interpretação só há dois caminhos: fique ou vá embora. E seja qual for o caminho...as nuvens continuarão a existir e a dançar.

 - 06 de agosto de 2011. noite.










"Os desgostos da vida ensinam a arte do silêncio." Sêneca

"Se beberes água, não digas por tudo e por nada que bebes água." Epitecto

"O mais corrosivo de todos os ácidos é o silêncio." Andreas Frangias 

"É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil." Nietsche

"Da árvore do silêncio pende seu fruto, a paz." Schopenhauer

"Há momentos em que silenciar é mentir." Miguel Unamuno

"Nunca quebres o silêncio se não for para o melhorar." Beethoven

"O silêncio é às vezes o que faz mais mal quando a gente sofre." Florbela Espanca