quinta-feira, 10 de maio de 2012

Lágrimas de mel, no branco daquele papel.

"As pedras duras marcam mais, pois quando arrancadas deixam uma marca profunda no solo ao qual estiveram"
Autor: poeta Anacoreta, A.C.

Uma das coisas mais belas da vida é o aprendizado que fazemos junto a ela, a própria vida. As dores, inevitáveis pois sem elas não se aprecia o sabor do prazer, nos deixam por vezes em chão tão fundo que tem-se a impressão de que há alguem a cavar mais o solo na intenção de cairmos infinitamente no abismo.
Sem pretensão, uma corda, uma mão, uma luz, uma ave...nos levanta e subimos para terra firme. Olha-se para onde estávamos e aquele buraco enorme inexiste...não havia queda...não havia abismo....mas há uma marca...! Gravou-se ali a lembrança e por mais que cresçam gramas altas, há que se lembrar que ali, naquele pedacinho...aconteceu algo...

A diferença é que por vezes nos perdemos nessa pequena lembrança como se fosse ainda existente a queda, ou fingimos para apenas nos abstrairmos de uma determinada situação, que nos confunde e não sabemos qual ação tomar....deixamo-nos por ficar ali a observar....ou deixamos que pensem que estamos a observar.

De certo, viver é um aprendizado...diria que a pretensão desse aprender é atribuir pra si a liberdade e isso inclui a morte (física e a mental), a maneira de encara-la, descartando os dogmas religiosos e compreendendo o existencialismo.

Disse-me certa vez, um filosofo, de que vida sem sofrimento não é humano.
Todavia a dor é por vezes tão intensa que a vontade maior é ter os poderes dos deuses e fincar a mão peito adentro e arrancar o coração, com o poder de continuar vivo e nada mais sentir.
Em contra partida, sem o sofrimento não existe possibilidade de viver humanamente. É preciso concordar com isso, aceitar essas condições, desta forma minimiza o conceito pré determinado culturalmente com relação ao sofrimento.

Que mal há nisso? sofro pois vivo, se vivo eis que é condição minha, sofrer.
Também concordo que o ser humano deva ter direito de decidir se quer viver ou morrer.
Como uma fumaça de um cigarro que simplesmente se mistura com o ar e desaparece aquele tom cinzento...
sobra o cheiro...que por algum tempo também some. Assim é o que somos.

 "As pedras duras marcam mais, pois quando arrancadas deixam uma marca profunda no solo ao qual estiveram"

Penso que a alma do ser humano tem vários buracos, algumas rasgadas por navalhas, outras tão cheias que pesam ao invez de terem leveza, outras tão leves que nem se nota enquanto existência.
Contudo, nada é eterno, não pode ser afirmado isso, e os buracos, os rasgos, as marcas sempre modificarão porque a alma é a sensibilidade por mais dura que a mente de um ser humano possa demonstrar.

Quando sofremos adquirimos maior percepção acerca do outro e conseguimos distinguir o bem do mau, e saber o puro e o impuro e sentir o belo e o feio e carregar em nossos olhos quando ela é leve ou pesada.

Algumas pessoas sofrem a toa, outras sofrem por questão de sobrevivencia, da guerra entre humanos, passar em lugares e ser atingido e pela vida continuar a caminhar, sorrir e a cantar.

Todo sofrimento é necessário e portanto é da vida tal como o prazer, a felicidade, a alegria. É do espirito, é do momento da própria vida e é preciso curti-la para não sobrecarregar o emocional. Resolve-se quando a razão compreende.

Embora seja óbvio o sofrimento, algumas coisas da vida são maiores do que essa dor, diria que é acima de qualquer outro sentimento, tão forte a que atinge o espirito, enfraquecendo-o e naturalmente fortalecendo-o.

É a indiferença hostil.
Indiferença temos por qualquer ser, desde que sejamos importante ao outro sem sequer sabermos disso, sabermos que existimos para alguem e portanto, para essa pessoa, nos tornamos indiferentes.
Mas a indiferença hostil é aquela que sabemos da existência que temos na vida de alguem e que esse alguem também nos é vivo em nossa memoria, mas que por hostilidade, ignoramos sem apresentar a quebra do silencio.
Quando passamos por essa sensação, a reflexão vale para perceber o que não conseguimos ver, então estampa em nossa frente que tal ação também temos com outras pessoas. Seria o famoso ditado: colocar-se no lugar do outro.

Então penso: como podemos ser sujeito do sofrimento alheio se não temos essa percepção? O sofrimento é causado por nós quando construimos fantasias que por vezes pensamos estar um castelo mas contruindo uma casa de terror. Nossa percepção sobre as coisas da vida pode nos derrubar ou nos levantar, mas jamais o outro tem participação plena nisso, a não ser quando divide-se o caminho do amor, é preciso de duas mãos juntas...então o céu passa a ser rosa e o castelo é belamente feito de diamantes.

Diria que a frase do autor a qual enfatizo nessa minha reflexão não dá lugar a indiferença hostil que mencionei, relevancia é com relação ao sofrimento. 

Na conclusão que se faz ao ler uma frase poetica, é impreterivel que o entendimento seja individual. O autor se referia a seus sentidos, o que não há relação alguma, com o sentido que coloco aqui....pois é meu.

Todavia, frase essa que penetra em qualquer um pois todos sofremos, todos temos buracos, mas também florimos com o tempo.


Somos sozinhos e todos os passos dependem de nós.

C.L.P. - nem quente, nem frio, tudo morno.

"a chuva desce desse céu, aquelas nuvens que eu desenho no papel, por ora cinza, por ora branquinha, 
meus olhos atentos, as estrelinhas..., o vento forte afasta as nuvens e eis que surgem as tres marias,
pagina em branco...ops...derramei dos meus olhos lágrimas de mel..., no branco daquele papel"
C.L.P









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