segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Te amo em paz, a paz do amor.

Amar em paz
é amar a si mesmo
manifestando sem pretensão
amor ao mundo, a vida e a morte

Aceitar a vida, o amor a paz
recusar o mal, apesar de abraçar o sofrimento
pois sofrimento também é amor
é dor da saudade, da vontade, é dor da duvida

Amar em paz
sem odiar, sem mágoa provocar
sem vingança desejar
compreender o lado oposto da vida
da vida doutro, que não é tua vida

Amar em paz, amo-te em paz
Paz minha, interior, tranquila
ler os outros nas entrelinhas
palavras sem cor, invasivas

Amar em paz e harmonia
a todo, a nada, alguém, ninguém.

Amar em paz
nessas águas que se vão
das melhores lembranças que ficarão



e que vida fale por si...
nos dias que seguirão...

ao vento...pelo mundo
mundo de quem ama
dos romanticos
de sentimento profundo.

C.L.  19-09-2011

"Nós inventamos o que amamos e o que tememos." John Irving

domingo, 18 de setembro de 2011

Pensamentos de Antoine de Saint-Exupéry


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Cerimonial do Amor
Se não houver esperanças de que o teu amor seja recebido, o que tens a fazer é não o declarar. Poderá desenvolver-se em ti, num ambiente de silêncio. Esse amor proporciona-te então uma direcção que permite aproximares-te, afastares-te, entrares, saíres, encontrares, perderes. Porque tu és aquele que tem de viver. E não há vida se nenhum deus te criou linhas de força.

Se o teu amor não é recebido, se ele se transforma em súplica vã como recompensa da tua fidelidade, se não tens coração para te calares, nessa altura vai ter com um médico para ele te curar. É bom não confundir o amor com a escravatura do coração. O amor que pede é belo, mas aquele que suplica é amor de criado.Se o teu amor esbarra com o absoluto das coisas, se por exemplo tem de franquear a impenetrável parede de um mosteiro ou do exílio, agradece a Deus que ela por hipótese retribua o teu amor, embora na aparência se mostre surda e cega. Há uma lamparina acesa para ti neste mundo. Pouco me importa que tu não possas servir-te dela. Aquele que morre no deserto tem a riqueza de uma casa longínqua, embora morra.

Se eu construir almas grandes e escolher a mais perfeita para a rodear de silêncio, ficarás com a impressão de que ninguém recebe nada com isso. E, no entanto, ela enobrece todo o meu império. Quem quer que passa ao longe, prosterna-se. E nascem os sinais e os milagres.

Não importa que o amor que alguém nutre por ti seja um amor inútil. Desde que tu lhe correspondas, caminharás na luz. Grande é a oração à qual só responde o silêncio; basta que o deus exista.
Se o teu amor é aceite e há braços que se abrem para ti, então pede a Deus que salve esse amor de apodrecer. Eu temo pelos corações cumulados.
.....

Não Confundas o Amor Com o Delírio da Posse 

Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. Por eu amar a Deus, meto-me a pé pela estrada fora, coxeando penosamente para o levar aos outros homens. E não reduzo o meu Deus à escravatura. E sou alimentado com o que ele dá a outros. Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca. 
  

sábado, 17 de setembro de 2011

Pensamentos de Jeanne de Vietinghoff

Não Julgues Não julgues. A vida é um mistério, cada um obedece a leis diferentes. Conheces porventura a força das coisas que os conduziram, os sofrimentos e os desejos que cavaram o seu caminho? Supreendestes porventura a voz da sua consciência a revelar-lhes em voz baixa o segredo do seu destino? Não julgues; olha o lago puro e a água tranquila onde vêm quebrar-se as mil vagas que varrem o universo... É preciso que aconteça tudo aquilo que vês.
Todas as ondas do oceano são precisas para levar ao porto o navio da verdade. Acredita na eficácia da morte do que queres para participares do triunfo do que deve ser.

Jeanne Vietinghoff


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http://www.vietinghoff.org/eng/leben/eltern/mutter3.html

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

por Saramago - II

A Racionalidade Irracional

Eu digo muitas vezes que o instinto serve melhor os animais do que a razão a nossa espécie. E o instinto serve melhor os animais porque é conservador, defende a vida. Se um animal come outro, come-o porque tem de comer, porque tem de viver; mas quando assistimos a cenas de lutas terríveis entre animais, o leão que persegue a gazela e que a morde e que a mata e que a devora, parece que o nosso coração sensível dirá «que coisa tão cruel». Não: quem se comporta com crueldade é o homem, não é o animal, aquilo não é crueldade; o animal não tortura, é o homem que tortura. Então o que eu critico é o comportamento do ser humano, um ser dotado de razão, razão disciplinadora, organizadora, mantenedora da vida, que deveria sê-lo e que não o é; o que eu critico é a facilidade com que o ser humano se corrompe, com que se torna maligno.
Aquela ideia que temos da esperança nas crianças, nos meninos e nas meninas pequenas, a ideia de que são seres aparentemente maravilhosos, de olhares puros, relativamente a essa ideia eu digo: pois sim, é tudo muito bonito, são de facto muito simpáticos, são adoráveis, mas deixemos que cresçam para sabermos quem realmente são. E quando crescem, sabemos que infelizmente muitas dessas inocentes crianças vão modificar-se. E por culpa de quê? É a sociedade a única responsável? Há questões de ordem hereditária? O que é que se passa dentro da cabeça das pessoas para serem uma coisa e passarem a ser outra?
Uma sociedade que instituiu, como valores a perseguir, esses que nós sabemos, o lucro, o êxito, o triunfo sobre o outro e todas estas coisas, essa sociedade coloca as pessoas numa situação em que acabam por pensar (se é que o dizem e não se limitam a agir) que todos os meios são bons para se alcançar aquilo que se quer.
Falámos muito ao longo destes últimos anos (e felizmente continuamos a falar) dos direitos humanos; simplesmente deixámos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. Isso, de facto, não posso entender, é uma das minhas grandes angústias.

José Saramago


olhares da vida


"Esta vida é um perpétuo combate e a filosofia o único emplastro que podemos pôr nas feridas que recebemos de todos os lados." Voltaire

 
"Não há um lado mau da vida: a vida é una." Shaw Bernard

 "A vida nunca deu nada aos mortais sem grandes fadigas." - Horácio

o lado que diz

te amo
amo vc
ahhhh amo! que tanto amei...
ainda amo?
quem? se amo?
não sei!
e quando sei...
amo tanto
que nem o dizer saboreei!
te amo
amo-te
ah como eu amo
Eu amo vc.
o lado que dia: diga te amo
e outro lado que noite, não diga!
e tem o outro lado que vaga?
não sofras
então não amo...
não te amo
Eu não te amo mais...
nunca te amarei mais
não te amei tanto assim
nunca amei tanto assim
nunca não te amarei assim
meu tanto é tanto que amo
amo um tanto infinito...é sim!
eu te amo.
diz minha voz...
que bate com um martelo...
no meu coração...quebrado, partido
chora e sangra, apaixonado...bandido!
grita:
eu te amo
o lado que dia e noite
eu te amo que queima
e o lado que escondo?!
de quem amo.
ah como eu amo...
sofrendo e amando.
calada e sonhando
sozinha e chorando
dessas notas musicais e paisagens
existe o nada, o vazio...
venha-me amor, 
te amo, e te amo tanto
que tanto assim...
me esconderei dentro de mim
fecho-me e tranco me, no meu proprio fim
o lado que diz te amo, te amo sabe?
me desarme, pegue-me com sua chave
abra-me...que te amo tanto
abra-me....cante em meus ouvidos
que de meu corpo sairá uma chama
tão fogo que arde e queima
vulcão
...é o lado que diz...dia noite...vida infeliz...
só! 

Carla Lacrimae paz 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ao amor

que deva ser sem testes
sem perguntas
que deva ser sem medo
que deva ser sem sofrimento do descaso
que deva ser com dor da saudade,
que deva não conter lágrimas senão do desespero
da vontade que dá de juntar as duas mãos
aos beijos
que deva ser apaixonante, de um dia, dois, de uma vida
que deva ser mantido a pureza da intensidade
do querer ficar juntos
que não haja deformação
da má interpretação
que deva ser respeitado
ao amor
que deva ser simplesmente amor.
que o confuso, receba o amor perturbado
desconsertado, para desconfundir
que o génio receba o amor corajoso
daquela que o entenderá, o contemplará
e ao ir embora, não deixar o ódio rastejar
que deva ser lembrado, o nascer do amor
a sede de amar, aquela sede de realmente amar
que não haja interferência, que não haja inconveniencia
e que sobretudo, haja o perdão
porque o amor é o unico sentimento que move a vida
é a razão do viver, é a razão do sofrer
que o amor seja puro e limpo
que o amor seja...
que seja o amor o mesmo sentido do infinito.

de repente

Parecia tudo correto. Eram apenas brincadeiras.
Metáforas em letras musicais.
Sumiço, do nada o ar da presença. Alegria.
Olho a minha volta, só há o vazio, o nada.
Percebo meu mundo, o amor forte, dentro de mim, que vaga.
Desejos inconclusos, meros sonhos
Meu corpo sedento por um abraço
Meus lábios secos em busca de um beijo
Parecia tudo muito calmo. Mas eu sei...brincadeiras...
Não dizia amor e nem desamor
Não dizia afeto e nem desafeto
E eu, ao olhar o descontentamento da realidade
Desejos de um sonho, o inesperado.
Alguém a me dizer tudo, sem dar tempo de me preparar
As mãos de um homem, de desejo puro, suas mãos...a me pegar.
De repente, de repente...levei mais a sério, aquele que comigo só fez a brincar
O respeito, gritou mais alto, cometi um erro, deixei de saber o que era amar
Parecia tudo correto, confusão em minha cabeça, pensamentos desalinhados
Ouvi pelas letras, as risadas sobre mim
Meu corpo fraquejou, minha mente delirou, o sensato foi sumir.
Parecia tudo correto, um amor analfabeto, faltando letras e sentido
De repente, é justamente agora que sinto
o quanto não levei a vida a sério, por relevar demais o brincar de amar
E algum dia, de repente algum dia espero, que nao se lembre
do meu desafeto, por não ter tido a coragem de a ti enfrentar
e nos teus braços e beijos, continuar a te amar.

Parecia tudo correto, era o medo a me dominar.
Agora acabou, e tenho a lembrança doce, para daquela noite
no meu coração guardar...daquele rosto que chora, da emoção estampada em lágrimas escondidas, ao falar da mãe que adora, do dizer sem receio, do receio em tocar, do tocar e do maravilhoso ato de beijar.




Museu virtual

Para quem gosta de apreciar:

MUSEU VIRTUAL


(porém, nada comparado quando a visita é ao vivo)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

alma machucada

enterrando o amor

Eis o problema...
as palavras...
quando ditas
as vezes mal interpretadas
se não explicadas
piores ainda ficam
e a melhor fala
é a que está no olhar

as palavras...
penso eu que...
melhor ser surda
cega e muda
se aprisionar
fugir, pra mais ninguém ligar

que o tempo passe
passe rápido...
não quero mentira e nem verdade
apenas desejo
palavras e ações sem intenção
de maldade

chega de tanta maldade.
13-09-11

(cria-se o belo, o feio, o ruim e o mal, para abstrair-se de uma situação....há quem prefira o ódio, há quem prefira as lagrimas, há quem prefira apenas não sofrer tanto...não tanto mais do que os risos...de alegria)


Não Penses - Virgílio Ferreira

Não Penses
Não penses. Que raio de mania essa de estares sempre a querer pensar. Pensar é trocar uma flor por um silogismo, um vivo por um morto. Pensar é não ver. Olha apenas, vê. Está um dia enorme de sol. Talvez que de noite, acabou-se, como diz o filósofo da ave de Minerva. Mas não agora. Há alegria bastante para se não pensar, que é coisa sempre triste. Olha, escuta. Nas passagens de nível, havia um aviso de «pare, escute, olhe» com vistas ao atropelo dos comboios. É o aviso que devia haver nestes dias magníficos de sol. Olha a luz. Escuta a alegria dos pássaros. Não penses, que é sacrilégio.

Vergílio Ferreira

A paz

"A paz não é um estado primitivo paradisíaco, nem uma forma de convivência regulada pelo acordo. A paz é algo que não conhecemos, que apenas buscamos e imaginamos. A paz é um ideal." Hesse , Hermann

"A paz só a conhece quem sofreu todos os desastres. O que me cabe, depois de alguns desastres, é apenas o caminho arenoso da paz. Este momento." Casemiro de Brito

"É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela." Nietzsche
.....
Sobre a paz.
Para alguns, é o ideal da guerra. Para outros é um tempo de tédio, marasmo.
Para tantos, ela não existe senão quando a criamos, na esperança de que ela se instale, após uma profunda experiência assombrosa.
Para muitos é tudo isso e algo mais.
Para mim, a paz significa estarmos de acordo com aquilo que acreditamos e darmos abertura para o conhecimento do novo. É ainda a linha harmoniosa que liga um ser ao outro, o diálogo, o entendimento e o respeito. É inclusive o sentimento de liberdade, da confiança em si mesmo e da mente aberta sem pré conceituações.
A paz ainda significa nada mais nada menos do que saber lidar com as divergências, mas com a propriedade da compreensão, da conversa.
A paz instala-se dentro de nós mesmos, quando no convívio com quem gostamos, a soberania é o sentimento puro e incondicional, o gostar, o amar, sem pretensão de nada, contudo o nada não significa desordem, não significa julgamento, não significa medo.
Quando sentimos a paz, sorrimos para o mundo, ainda que nossos corações estejam em lágrimas, mas sorrimos pela simples reação de termos o sorriso de volta.
A paz nos permite observar o todo, apreciar o belo, e o belo está no amor.
Assim como as sinfonias de Beethoven, compostas com o coração gritando de amor, a mente guerreada de notas musicais desejando sair para o mundo, mas em perfeita paz, paz com aquilo que desejava realizar e não permitiu que ninguém o interrompesse.

C.L

domingo, 11 de setembro de 2011

A tristeza que me entristece e a tristeza que me engrancede

Minha natureza é a de um ser anti social. Descobri a alguns meses que tenho fobia social.
Sentia-me estranha perto das pessoas, era como se ninguém me entedesse ou compreendesse um pouco as minhas poesias dotadas de melancolia, porém, melancolia não significa algo ruim, as vezes é inclusive um conforto, principalmente quando acompanhada por musica ou pelo som da natureza ou pelas notas musicais do silencio pois dele, emanam sons.
A falta de saudade por alguém, a necessidade de estar só e a sensação de viver entre estranhos eram constantes. Eu não compreendia o que isso significava, sentia-me no dever de ninguém ter a sensação de sentir por mim o menosprezo, pois não era isso o que eu sentia, mas só o fato de desejar estar só, causava esta impressão.
As presenças indesejáveis, eram, são, apenas como um vaso...alguns com plantas artificiais e outros vazios.
 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Antes que Seja Tarde - Manuel da Fonseca

Amigo, 
tu que choras uma angústia qualquer 
e falas de coisas mansas como o luar 
e paradas 
como as águas de um lago adormecido, 
acorda! 
Deixa de vez 
as margens do regato solitário 
onde te miras 
como se fosses a tua namorada. 
Abandona o jardim sem flores 
desse país inventado 
onde tu és o único habitante. 
Deixa os desejos sem rumo 
de barco ao deus-dará 
e esse ar de renúncia 
às coisas do mundo. 
Acorda, amigo, 
liberta-te dessa paz podre de milagre 
que existe 
apenas na tua imaginação. 
Abre os olhos e olha, 
abre os braços e luta! 
Amigo, 
antes da morte vir 
nasce de vez para a vida. 

Manuel da Fonseca

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Delirios

Nesta noite, quando o vento gela minha pele
parece que este vento se fez gélido para me acordar
mas sempre penso que acordo todos os dias,
mas sempre penso que sou uma nova mulher
mas sempre há quem gritará pertinho dos meus ouvidos
me fazendo lembrar que tudo é igual.

Nesta sensação de corpo frio como um cadáver de alma quente e quebrada
parece que esta alma me engana fingindo estar despedaçada
há um vulcão dentro de mim a espera de uma novidade
há um vulto que me cerca dizendo-me para abrir meus olhos
há um som triste da natureza mostrando-me desesperada o que não consigo ver


Nesta chama que me queima e faz sair de mim gritos e gemidos
minha exclamação se veste de interrogação e assim uma brinca com a outra
o engano de ver o que não quero e ouvir o que não devo
o engano de querer quem não quero e não querer quem eu quero
o engano de errar e errar e errar, tateando a esfera da arte de amar

Neste encontro, nunca encontrei, noutros encontros, jamais encontrarei
saber amar, é mais fácil do que se deixar amar
fugir do amor desvirtuando palavras, deturpando intenções
fugir do amor fazendo piadas, transformando o amado em amigo
fugir do amor fingindo força, fingir negar o sentimento

Neste dia, escutei com o coração todos os sons da natureza
minha alma já então fortalecida, sente a força
minha alma já então agradecida, assume a covardia minha
minha alma já então pelando, sabe que haverá um amor
amor mais forte do que o meu sentir de amor
amor que me enfrenta e me fará delirar

delirar de febre de tanto amor receber
e por isso tirei minhas vendas, porque agora tudo quero ver
ver o amor delirar, ferver

Carla Lacrimae paz


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cérebro Humano / Mentes brilhantes

Documentarios pertinentes acerca da nossa mente.

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"O cérebro é o parasita ou o pensionista do organismo inteiro." Schopenhauer

"Acho que damos pouca atenção àquilo que efectivamente decide tudo na nossa vida, ao órgão que levamos dentro da cabeça: o cérebro. Tudo quanto estamos por aqui a dizer é um produto dos poderes ou das capacidades do cérebro: a linguagem, o vocabulário mais ou menos extenso, mais ou menos rico, mais ou menos expressivo, as crenças, os amores, os ódios, Deus e o diabo, tudo está dentro da nossa cabeça. Fora da nossa cabeça não há nada." Saramago
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O funcionamento do cérebro humano - Discovery






 "Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura." Aristóteles
"Não tenho nada a declarar a não ser a minha genialidade." Oscar Wilde
"Um homem de génio é insuportável se, além disso, não possuir pelo menos duas outras qualidades: gratidão e asseio." Nietzsche
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Mentes Brilhantes













segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Amar o ser em sua essência.


O Amor é a Mais Forte das Paixões 
Por que é que gozamos com cada nova beleza que descobrimos no que amamos? Porque cada nova beleza nos dá a inteira e total satisfação de um desejo. Se a queremos sensível ela será sensível. Se em seguida a queremos orgulhosa como a Émilie de Corneille, embora estas duas qualidades sejam provavelmente incompatíveis, ela aparece imediatamente com uma alma romana. É esta a razão moral porque o amor é a mais forte das paixões. Nas outras, os desejos têm que se acomodar às tristes realidades; nesta, são as realidades que se apressam a identificar-se com os desejos; ela é, portanto, a paixão em que os desejos violentos têm uma maior realização.

Stendhal

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A Alma Transforma-se em Sensações 
Eis um efeito que me será contestado, e que só apresento aos homens que, digamos, são bastante infelizes para terem amado com paixão durante longos anos, dum amor contrariado por obstáculos invencíveis:
A vista de tudo o que é extremamente belo, tanto na natureza como nas artes, traz-nos a recordação do que amamos, com a rapidez de um relâmpago. É que, pelo processo do ramo de árvore guarnecido de diamantes da mina de Salzburgo, tudo o que no mundo é belo e sublime faz parte da beleza do que amamos, e esta visão imprevista da felicidade enche-nos os olhos de lágrimas num instante. É assim que o amor do belo e o amor se dão vida um ao outro.
Uma das infelicidades da vida é que a ventura de ver a quem amamos e de lhe falar não deixa recordações distintas. Aparentemente, a alma está demasiado perturbada pelas suas emoções para poder prestar atenção ao que as causa ou as acompanha. Transforma-se na própria sensação. É talvez porque estes prazeres não se podem renovar sempre que queremos, por simples força de vontade, que se renovam com tanta força, desde que um objecto qualquer nos venha tirar da meditação consagrada à mulher que amamos, e lembrar-no-la mais vivamente por meio de uma nova sugestão (o perfume dela, por exemplo).
Stendhal
......
No Amor, o Homem Deve Tomar a Iniciativa 
O pudor inibe a mulher de provocar certas carícias, mas sente prazer em recebê-las quando outro as começa. Sim, um homem tem em demasiada conta as suas qualidades físicas, se espera que seja a mulher a primeira a rogar. É ao homem que compete começar, é ao homem que compete pronunciar as palavras suplicantes; a ela acolher favorávelmente as suas brandas preces. Queres possuí-la? pede. Ela deseja tanto como tu ser rogada. Explica-lhe a causa e a origem do teu amor. Júpiter dirigia-se suplicante às antigas heroínas; apesar do seu poder, nenhuma o vinha provocar.
Mas se as tuas preces se quebram na distância dum orgulho desdenhoso, abandona o que começaste e recua. Como elas desejam o que lhes escapa, e detestam o que está ao seu alcance! Sendo menos insistente, não mais serás repelido.
E a esperança de alcançares os teus fins nem sempre deve aparecer nos teus pedidos; que o amor penetre sob o nome da amizade. Vi mulheres esquivas serem enganadas desta maneira: o que fora seu cortesão, tornara-se seu amante.

Ovídio
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A Cegueira do Amor  
Desde que se ame, o mais sensato dos homens não vê nenhum objecto tal como é. Exagera para menos as suas próprias vantagens e para mais os menores favores do objecto amado. Os temores e as esperanças transformam-se imediatamente em algo de romanesco. Deixa de atribuir seja o que for ao acaso; perde o sentido das probabilidades; uma coisa imaginada é uma coisa existente que influi na sua felicidade.
Um signo aterrador de que se está a perder a cabeça é que, ao pensar em qualquer facto, por minúsculo e difícil de observar que seja, o vejamos branco e o interpretemos em favor do nosso amor; um instante depois, verificamos que na realidade era negro, e mesmo assim ainda o achamos favorável ao nosso amor.
É nessa altura que uma alma presa de mortais incertezas sente vivamente a necessidade de um amigo; mas para um amante já não há amigos, como muito bem se sabia nas cortes. Eis a fonte da única espécie de indiscrição que uma mulher é capaz de perdoar.

Stendhal
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As Quatro Ignorâncias do Amante  
Quatro ignorâncias podem concorrer em um amante, que diminuam muito a perfeição e merecimento de seu amor. Ou porque não se conhecesse a si: ou porque não conhecesse a quem amava: ou porque não conhecesse o amor: ou porque não conhecesse o fim onde há-de parar, amando. Se não se conhecesse a si, talvez empregaria o seu pensamento onde o não havia de pôr, se se conhecera. Se não conhecesse a quem amava, talvez quereria com grandes finezas a quem havia de aborrecer, se o não ignorara. Se não conhecesse o amor, talvez se empenharia cegamente no que não havia de empreender, se o soubera. Se não conhecesse o fim em que havia de parar, amando, talvez chegaria a padecer os danos a que não havia de chegar se os previra.

Padre António Vieira,
...
Amar é Raro 


Casimiro de Brito
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Nunca Nos Separamos do Primeiro Amor
  Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele.
Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.

Marguerite Duras,
......
É Preciso Aprender a Amar 
Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar, mau-grado a sua novidade — para admitir o seu aspecto, a sua expressão fisionómica — e de caridade — para tolerar a sua estranheza; chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele.
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.

Friedrich Nietzsche
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A Realidade do Amor 
Que sempre existam almas para as quais o amor seja também o contacto de duas poesias, a convergência de dois devaneios. O amor, enquanto amor, nunca termina de se exprimir e exprime-se tanto melhor quanto mais poeticamente é sonhado. Os devaneios de duas almas solitárias preparam a magia de amar. Um realista da paixão verá aí apenas fórmulas evanescentes. Mas não é menos verdade que as grandes paixões se preparam em grandes devaneios. Mutilamos a realidade do amor quando a separamos de toda a sua irrealidade.

Gaston Bachelard
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Amar Intensamente 
De que vale no mundo ser-se inteligente, ser-se artista, ser-se alguém, quando a felicidade é tão simples! Ela existe mais nos seres claros, simples, compreensíveis e por isso a tua noiva de dantes, vale talvez bem mais que a tua noiva de agora, apesar dos versos e de tudo o mais. Ela não seria exigente, eu sou-o muitíssimo. Preciso de toda a vida, de toda a alma, de todos os pensamentos do homem que me tiver. Preciso que ele viva mais da minha vida que da vida dele. Preciso que ele me compreenda, que me adivinhe. A não ser assim, sou criatura para esquecer com a maior das friezas, das crueldades. Eu tenho já feito sofrer tanto! Tenho sido tão má! Tenho feito mal sem me importar porque quando não gosto, sou como as estátuas que são de mármore e não sentem.

Florbela Espanca
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O Amor é Muito Difícil  
Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer.

José Luís Peixoto
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Arthur Schopenhauer - Mais Vale ser Estimado que Amado





Mais Vale ser Estimado que Amado

Rochefoucauld observou de maneira pertinente que é difícil, ao mesmo tempo, ter em alta estima e amar muito a mesma pessoa. Teríamos, então, de escolher entre querer ganhar o amor ou a estima dos homens. O seu amor é sempre interesseiro, embora de maneiras bem diversas. Além do mais, a condição que nos permite conquistá-lo nem sempre é apropriada para nos orgulharmos. Antes de mais nada, uma pessoa é tanto mais amada quanto mais moderar as suas expectativas em relação ao espírito e ao coração dos outros; e tudo isso a sério, sem fingimento, e não apenas devido à indulgência enraizada no desprezo. Recordemos aqui o dito verdadeiro de Helvécio: «O grau de espírito necessário para nos agradar é uma medida bastante exacta do grau de espírito que possuímos». E assim chegamos à conclusão iniciada pelas premissas. Por outro lado, quando se trata da estima dos homens, dá-se o contrário: esta só lhes é arrancada contra a vontade; por isso, na maioria das vezes é ocultada. Desse modo, ela proporciona-nos uma satisfação interior bem maior, pois está relacionada ao nosso valor, o que não vale imediatamente para o amor dos homens, já que este é subjectivo, enquanto a estima é objectiva. Decerto, todavia, o amor nos é mais útil.

Arthur Schopenhauer

domingo, 21 de agosto de 2011

- A Vida Real de um Pensamento - "reflexao"

Os pensamentos surgem de duas formas: mundo interno e externo.
Tudo aquilo que o ser humano vê e lê, é absorvido, assim como, tudo o que vê e lê passam a fazer parte do quadro que compõe sua experiência de vida.

Os pensamentos nascidos do mundo externo possibilitam adquirir discernimento, assimilação do que lhe é correto ou incorreto, atribuição da ética e moral de acordo com a cultura do lugar em que vive e da forma educacional recebida no seio familiar e sociedade.

Os pensamentos que brotam do mundo interno, penso ser o que carateriza o ser humano como racional, embora, nossos atos de forma geral, são irracionais, quando estes são feitos ao calor do emocional, do impensado, do viver o momento de maneira pura, o agir por instinto animal.
Embora exista essa irracionalidade, o ser humano tem a faculdade da consciência do pensar.
E como nascem os pensamentos brotados do mundo interno?
Diria que nascem no momento em que um outro pensamento morre.
Ao extravasar, dizer, falar, escrever, o pensamento passa a não pertencer mais no nosso mundo interno, ele é transmitido para o externo e deixa de ser um pensamento único por razão da troca de conhecimento e da auto-reflexão pois ao ser transmitido, acabamos por repensar o pensamento dito e é neste momento que nasce um novo pensamento.

Tudo o que pensamos deve ser extravasado?
Não. Porque não há sempre equilíbrio entre a razão e a emoção. Desta forma, colidem pois tão logo pensei e disse, que já modifiquei o pensamento no mesmo instante, e não há possibilidade de desdizer, desfazer.
Pensar antes de extravasar o pensamento...contudo, por mais que acreditamos nessa racionalidade ante a emoção, é possível confundi-las e troca-las sem perceber, de posição. Ao pensar muito sobre o que dizer e o que não dizer no momento de um determinado pensamento, estamos racionalmente nos protegendo contra qualquer golpe que possa ser atingido em nosso emocional.

Os pensamentos são de uma certa forma, comandados por algo que desejamos. A ponderação do sim e do não, do bom e do ruim, muitas vezes conceituadas erradas (contudo, é subjetiva e se auto modifica de acordo com o discernimento adquirido com experiência de vida (mundo interno) aliado com a absorção do que recebemos (mundo externo)), pode afogar a possibilidade da realização do desejo que está no comando de tal pensamento.

A percepção desse afogar, do perder, deixar de realizar, só é adquirida após extravasar o pensamento.

Se não é o ideal dizermos tudo, como o externo saberá do que desejamos?
Se meus pensamentos morrem e nascem na medida em que digo o que penso e com esse pensar crio desejos, como poderei satisfaze-los sem colidir o racional com o emocional?

Particularmente, embora já tenha afogado inúmeros desejos, prefiro o extravasar. Não no sentido ofensivo e inapropriado garantindo deturpação de outrem, mas no sentido de dizer e fazer para se satisfazer, tendo em mente que o resultado ou será bom ou será nada, pois o nada já existe quando o desejo não é (ainda) realizado.
Aqueles que extravasam, são corajosos e por um outro lado, perigosos, pois são tão certos de si e inteligentemente equilibrados racionalmente e emocionalmente na maioria das vezes que, nos fazem sair da realidade dos pensamentos externos para descobrirmos o quanto é maior o nosso mundo pensante interno.

E ter a noção dessa grandeza, é um choque, contudo, é um navegar delicioso pois, brotam novos grandes pensamentos.

Embora eu esteja ainda incerta se é bom ou não extravasar, por ora, este é o pensamento que se vai, mas que nasceu do externo mundo musical e artístico.


A Vida Real de um Pensamento

A vida real de um pensamento dura apenas até ele chegar ao limite das palavras: nesse ponto, ele lapidifica-se, morre, portanto, mas continua indestrutível, tal como os animais e as plantas fósseis dos tempos pré-históricos. Essa realidade momentânea da sua vida também pode ser comparada ao cristal, no instante da cristalização.
Pois, assim que o nosso pensamento encontra as palavras, ele já não é interno, nem está realmente no âmago da sua essência. Quando começa a existir para os outros, ele deixa de viver em nós, como o filho que se desliga da mãe ao iniciar a própria existência. Mas diz também o poeta:

Não me confundais com contradições!
Tão logo se fala, já se começa a errar.


Arthur Schopenhauer

Bocage

Cede a Filosofia à NaturezaTenho assaz conservado o rosto enxuto 
Contra as iras do Fado omnipotente; 
Assaz contigo, ó Sócrates, na mente, 
À dor neguei das queixas o tributo. 

Sinto engelhar-se da constância o fruto, 
Cai no meu coração nova semente; 
Já me não vale um ânimo inocente; 
Gritos da Natureza, eu vos escuto! 

Jazer mudo entre as garras da Amargura, 
D'alma estóica aspirar à vã grandeza, 
Quando orgulho não for, será loucura. 

No espírito maior sempre há fraqueza, 
E, abafada no horror da desventura, 
Cede a Filosofia à Natureza. 

Bocage

 Amor Sem Fruto, Amor Sem EsperançaAmor sem fruto, amor sem esperança 
É mais nobre, mais puro, 
Que o que, domando a ríspida esquivança, 
Jaz dos agrados nas prisões seguro. 
Meu leal coração, constante e forte, 
Vendo a teu lado acesos, 
Flérida ingrata, os ódios, os desprezos, 
O rigor, a tristeza, a raiva, a morte, 
Forjando contra mim, por ordem tua, 
Mil setas venenosas, 
Em prémio destas lágrimas saudosas, 
Inda assim continua 
A abrasar-se em teus olhos... Vis amantes, 
Corações inconstantes, 
De sórdidas paixões envenenados, 
Vós, a cujos ardores, 
A cujos desbocados 
Infames apetites 
A Virtude, a Razão não põe limites, 
Suspirai por ilícitos favores, 
Cevai-vos em torpíssimos desejos, 
Tratai, tratai de louco um amor casto, 
Que eu nos grilhões que arrasto; 
Tão limpos como o Sol, darei mil beijos. 
Peçonhenta aliança, 
Vergonhoso prazer, de vós não curo; 
De ti, sim, porque és puro, 
Amor sem fruto, amor sem esperança. 

Bocage
Fiei-me nos Sorrisos da VenturaFiei-me nos sorrisos da ventura, 
Em mimos feminis, como fui louco! 
Vi raiar o prazer; porém tão pouco 
Momentâneo relâmpago não dura: 

No meio agora desta selva escura, 
Dentro deste penedo húmido e ouco, 
Pareço, até no tom lúgubre, e rouco 
Triste sombra a carpir na sepultura: 

Que estância para mim tão própria é esta! 
Causais-me um doce, e fúnebre transporte, 
Áridos matos, lôbrega floresta! 

Ah! não me roubou tudo a negra sorte: 
Inda tenho este abrigo, inda me resta 
O pranto, a queixa, a solidão e a morte. 

Bocage

















"Vai sempre avante a paixão,
Buscando seu doce fim;
Os amantes são assim:
Todos fogem à razão."


"Morrer é pouco, é fácil; mas ter vida
Delirando de amor, sem fruto ardendo,
É padecer mil mortes, mil infernos."


SONETO DO PRAZER MAIOR
 
Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,

Depois da meia-noite na janela:
Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;

Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:
Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,

E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:
Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.