Os pensamentos surgem de duas formas: mundo interno e externo.
Tudo aquilo que o ser humano vê e lê, é absorvido, assim como, tudo o que vê e lê passam a fazer parte do quadro que compõe sua experiência de vida.
Os pensamentos nascidos do mundo externo possibilitam adquirir discernimento, assimilação do que lhe é correto ou incorreto, atribuição da ética e moral de acordo com a cultura do lugar em que vive e da forma educacional recebida no seio familiar e sociedade.
Os pensamentos que brotam do mundo interno, penso ser o que carateriza o ser humano como racional, embora, nossos atos de forma geral, são irracionais, quando estes são feitos ao calor do emocional, do impensado, do viver o momento de maneira pura, o agir por instinto animal.
Embora exista essa irracionalidade, o ser humano tem a faculdade da consciência do pensar.
E como nascem os pensamentos brotados do mundo interno?
Diria que nascem no momento em que um outro pensamento morre.
Ao extravasar, dizer, falar, escrever, o pensamento passa a não pertencer mais no nosso mundo interno, ele é transmitido para o externo e deixa de ser um pensamento único por razão da troca de conhecimento e da auto-reflexão pois ao ser transmitido, acabamos por repensar o pensamento dito e é neste momento que nasce um novo pensamento.
Tudo o que pensamos deve ser extravasado?
Não. Porque não há sempre equilíbrio entre a razão e a emoção. Desta forma, colidem pois tão logo pensei e disse, que já modifiquei o pensamento no mesmo instante, e não há possibilidade de desdizer, desfazer.
Pensar antes de extravasar o pensamento...contudo, por mais que acreditamos nessa racionalidade ante a emoção, é possível confundi-las e troca-las sem perceber, de posição. Ao pensar muito sobre o que dizer e o que não dizer no momento de um determinado pensamento, estamos racionalmente nos protegendo contra qualquer golpe que possa ser atingido em nosso emocional.
Os pensamentos são de uma certa forma, comandados por algo que desejamos. A ponderação do sim e do não, do bom e do ruim, muitas vezes conceituadas erradas (contudo, é subjetiva e se auto modifica de acordo com o discernimento adquirido com experiência de vida (mundo interno) aliado com a absorção do que recebemos (mundo externo)), pode afogar a possibilidade da realização do desejo que está no comando de tal pensamento.
A percepção desse afogar, do perder, deixar de realizar, só é adquirida após extravasar o pensamento.
Se não é o ideal dizermos tudo, como o externo saberá do que desejamos?
Se meus pensamentos morrem e nascem na medida em que digo o que penso e com esse pensar crio desejos, como poderei satisfaze-los sem colidir o racional com o emocional?
Particularmente, embora já tenha afogado inúmeros desejos, prefiro o extravasar. Não no sentido ofensivo e inapropriado garantindo deturpação de outrem, mas no sentido de dizer e fazer para se satisfazer, tendo em mente que o resultado ou será bom ou será nada, pois o nada já existe quando o desejo não é (ainda) realizado.
Aqueles que extravasam, são corajosos e por um outro lado, perigosos, pois são tão certos de si e inteligentemente equilibrados racionalmente e emocionalmente na maioria das vezes que, nos fazem sair da realidade dos pensamentos externos para descobrirmos o quanto é maior o nosso mundo pensante interno.
E ter a noção dessa grandeza, é um choque, contudo, é um navegar delicioso pois, brotam novos grandes pensamentos.
Embora eu esteja ainda incerta se é bom ou não extravasar, por ora, este é o pensamento que se vai, mas que nasceu do externo mundo musical e artístico.
A Vida Real de um Pensamento
A vida real de um pensamento dura apenas até ele chegar ao limite das palavras: nesse ponto, ele lapidifica-se, morre, portanto, mas continua indestrutível, tal como os animais e as plantas fósseis dos tempos pré-históricos. Essa realidade momentânea da sua vida também pode ser comparada ao cristal, no instante da cristalização.
Pois, assim que o nosso pensamento encontra as palavras, ele já não é interno, nem está realmente no âmago da sua essência. Quando começa a existir para os outros, ele deixa de viver em nós, como o filho que se desliga da mãe ao iniciar a própria existência. Mas diz também o poeta:
Não me confundais com contradições!
Tão logo se fala, já se começa a errar.
Arthur Schopenhauer