Ainda na metade, pois volto e releio mesmo tendo compreendido...e dessa vez sem pressa para concluir ou agregar uma nova percepção....com pressa.
Transcrevo aqui trecho da página 22 do Livro Compreender Wittgenstein - Kai Buchholz
" Wittgenstein continua desenvolvendo esta argumentação nascida diretamente de uma situação específica da vida, o que se expressa, entre outras coisa, numa observação filosófica que escreve em seu diário, no dia 5 de julho de 1916 - ele se encontra justamente no front:
O mundo é independente de minha vontade. Ainda que tudo que desejássemos acontecesse, isso seria, por assim dizer, apenas uma graça do destino, pois não há nenhum vínculo lógico entre vontade e mundo que o garantisse, e o suposto [vínculo] físico decerto não é algo que pudéssemos querer *(TGB 167)
* TGB = Tagebucher (diários) 1914-1916, vol. 1, p. 87-187
"O mundo é independente de minha vontade." Wittgenstein
O que significa essa singela citação? remete as ideias de Schopenhauer em "Mundo como vontade e representação"?! (De um lado a vontade e de outro a representação)
Wittgenstein enfatiza que tudo o que faz pela própria vontade não tem relação com os acontecimentos no mundo ainda que seus desejos fossem existentes seria portanto...apenas sorte, um acaso.
É realmente possível vivermos em plena ilusão?
vamos a leitura...antes que a verdade chegue a mim...
Lembre-se de que para Wittgenstein (de quem não me posso gabar de conhecer profundamente, o que significa que há um enorme vácuo no meu pensamento) os limites do meu mundo são os limites da minha linguagem...
ResponderExcluirPense que estãos com óculos verdes e que enxergas tudo o que está visível no teu mundo como tons de verde: ha verdes claros, verdes escuros, verdes com tons imperceptívelmente avermelhados (mas verdes) etc. Poderás pensar que é possível tirar os óculos e ver o mundo como ele é... Mas, e se a tua visão sem óculos nada mais for que efeito de uns óculos imperceptíveis ao tato e com os quais já nascestes?
Digamos que estamos condenados aos óculos da linguagem e que ter consciência disso não é tirar os óculos e ter a visão transparente, mas colocar novos óculos (digamos, não mais verdes, mas vermelhos) na frente daqueles imperceptíveis com os quais nascemos...
O peixe tem o aquário como seu universo. Eles não vêem que nós chegamos perto deles e os olhamos com nossos grandes olhos curiosos (ou nosso gato com seus grandes olhos gulosos)... Eles vêem que a superfície do universo-aquário muda de cores ou forma, ou seja, que algo se altera na superfície do seu universo e não podem provar que hava algo além dessa superfície. Pois bem, o aquário do homem é a sua linguagem.
Alguém pode malvadamente, quem sabe, pôr o aquário sobre uma chama, e a água começará a esquentar cada vez mais... Um peixe-centista-catastrófico começará a acusar todos os peixes possíveis de terem alterado, por seus movimentos exagerados, o ambiente do universo-aquário durante anos e anos. Ou ele dirá que há um Peixe-eterno que os castiga por isso. Mas nada passará de crença, pois ainda que um peixe-filósofo diga que sabe que nada sabe algum peixe sempre poderá desconfiar de que isso não é verdadeiro nem falso, pois às vezes sequer se pode saber que não se sabe (os humanos que usam óculos e vão à praia costumam só depois de muito tempo perceberem que não estavam vendo bem, que seus óculos estavam cada vez mais embaçados pelo salitre... Eles só passam a saber que nada sabiam quando, por algum acaso, se lembram de limpar os óculos. O mesmo ocorre com um motorista que já se acostumou com o orvalho sobre o para-brisas)...
Durante a Primeira Guerra, Wittgenstein pode ter sentido a impotência diante dos fatos, diante do que chamavam de "cronogramas da guerra": a guerra nem podia ser evitada quando estava prestes a começar, porque os horários de trens, deslocamentos de tropas, ações defensivas e de ataque etc. já estavam programados desde meses antes e não havia força ou autoridade humana suficente para deter tantos movimentos...). Todos estavam desempenhando papeis que nem sempre haviam escolhidos, alemães eram lançados contra franceses contra os quais nada no fundo tinham, e vice-versa.
Mas talvez o mais duro para Wittengenstein nem fosse essa terrível condição do homem moderno e suas guerras tecnológicas: o pior mesmo devia ser o imaginar que ainda que tivesse bom motivo para defender racionalmente um e apenas um dos lados, ainda assim haveria a possibilidade de ele e seus oponentes estarem a servir não a suas ideias, a sua razão e senso de justiça, mas às regras mais ocultas e inexoráveis da linguagem.
Para Shopenhauer, o mundo pode ser visto tanto como vontade quanto como representação. Aliás, é mais vontade, pois a representação não é autônoma. Digamos que para Wittgenstein o mundo é só representação.